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Trabalho de Termino do Curso de Mestrado em Interpretação Bíblica. Exegese Bíblica.



Mestrado em Teologia













Pardes. Método Judaico do 1º Século para Interpretação das Escrituras.














São Paulo
2018

Mestrado em Teologia











Pardes. Método Judaico do 1º Século para Interpretação das Escrituras.


ALUNO: Robson Rojas Romero

                                                                                                                    
Trabalho apresentado para avaliação na disciplina de Exegese Bíblica, do curso de Mestrado em Teologia, da Faculta Teológica Faeteo, ministrado pelo professor Dr. Eder Gaspar da Costa


Orientador: Prof. Dr. Alexandre Lima







São Paulo
2018










Dedico ao Eterno Criador, à Sabedoria que Ele me tem dado, e à minha querida esposa Maria Isabel, pela paciência que tem atuado, juntamente com minha filha Giovanna.

RESUMO
O objetivo do trabalho visa, inicialmente, mostrar o método de interpretação das escrituras sagradas usado no primeiro século pelo povo judeu, assim como a importância que este método tem para a compreensão de toda a escritura Sagrada, podendo contextualizar tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento. Um método que inicialmente se tem pouco conhecimento no meio Cristão por ter sido anteriormente restrito ao meio religioso Judaico, Rabínico. 
Palavras-chave: PARDES, P’shat, Remez,, drash, Sod

ABSTRACT
This work has the aim to, foremost, expose the earlier method to interpretate the Holy Scriptures in the first century, initially used by the Jewesh people, and also to relate the importance of that process, in order to comprehend in overall the content of the Sacred Scribes, being able to contextualize both the Old Testament and the New Testament. That is a lesser-known system to the Christian milieu, previously resctricted to the Jewesh expedient, the Rabbins.
Keywords: PARDES, P ' Shat, Drash, Sod


SUMÁRIO


INTRODUÇÃO..............................................................................................................
1   Métodos judaicos para interpRetação bÍblica ...........................................................
1.1 Introdução á hermeneutica....................................................................................... 
1.2 exegese no primeiro século....................................................................................... 
1.2.1  Exegese como formação no Novo Testamento......................................................
2   OS CAMINHOS DAS INTERPRETAÇÕES ............................................................
2.1 IDADE MÉDIA NAS INTERPRETAÇÕES............................................................
2.1.1  INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS NAS INTERPRETAÇÕES BÍBLICA................
3   OS DESAFIOS CONTEMPORâNEOS PARA O MÉTODO.....................................
3.1 Uma hermenêutica Judaica no Cristianismo..............................................................
3.1.1  PARDES, o Método.................................................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................

INTRODUÇÃO


Hermenêutica é uma palavra de origem grega, sendo Platão (427-347 a.C.) o primeiro a usá-la como termo técnico. No sentido mais vasto do termo, a hermenêutica pode ser determinada como a ciência que nos ensina os inícios, as leis e os métodos de interpretação de qualquer produção literária. Hermenêutica é, por si, a ciência e a arte de interpretar. O apóstolo Pedro (70 d.C.) admite nas Escrituras que há certas cousas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. O escritor Dr. E. LUND (1992 d.C.) comenta que não há livro mais perseguido pelos inimigos, nem livro mais torturado pelos amigos, que a Bíblia, devido à ignorância da sadia regra de interpretação.
Hermenêutica PARDES refere-se aos métodos de hermenêutica da exegese bíblica no judaísmo rabínico, sendo utilizada em todas as interpretações, mesmo as de outros textos religiosos, no estudo das escrituras, como o Tanach (Antigo Testamento), a Bíblia Hebraica, etc.
Todos os tipos de interpretações da PARDES examinam o significado prolongado de um determinado texto. Como regra geral, o significado estendido não contradiz o significado básico.
Atualmente os métodos usados nas interpretações bíblicas, como, por exemplo, o M.I. (Método Indutivo), o Sistemático, a Bíblica, a Temática, a Textual, a Tipológica, etc, tem, em quase todas, as intepretações hoje trabalhadas no Cristianismo, vindas dos chamados pais da teologia Cristã, como por exemplo: Lutero, Calvino e Melanchthon, o qual foi à mão direita de Lutero, o seu superior em erudição.
Analisemos que, no ponto de vista cristão, a Escritura interpreta a própria Escritura, mas se isso fosse uma realidade absoluta, não haveria tantos estudos bíblicos com interpretações diferentes. Por esse motivo que o método PARDES de interpretação bíblica se faz e se mostra com um diferencial de interpretação como veremos  no decorrer deste trabalho.
Atualmente as interpretações das Escrituras ficam a cargo de quem está lendo, ocorrendo muitas vezes de não se usar um método eficaz, para que possa falar a mesma linguagem que outros intérpretes, desconsiderando ainda a infinidade de riquezas na interpretação que um texto carrega, ou tampouco sua grandeza em revelações.
Para o desenvolvimento deste trabalho de pesquisa foram necessárias muitas visitas em sinagogas, leitura de livros da cultura Judaica, conversas, estudos e cursos com rabinos; em todo um esforço e dedicação de mais de três anos, conseguimos materiais suficientes para “revelar” o que os rabinos (mestres) não revelam para outras culturas gentílicas. Em algumas escolas Judaicas, principalmente no primeiro século, o método PARDES só poderia ser ensinado a um Hebreu, Judeu religioso praticante desde criança, com mais de quarenta anos de idade. Este foi um dos motivos de não encontrarmos tantos materiais sobre o assunto, já que o método é passado por discipulado pessoal, sem materiais didáticos. Também por isso a biografia deste trabalho não contém tantos livros que falem do método PARDES, mesmo que hoje o método esteja mais acessível aos “gentios”, através de cursos específicos no meio Judaico messiânico.
O objetivo principal deste trabalho é passar dados para a busca de informações sobre o tema PARDES e incentivar os teólogos e amantes da santa escritura a procurarem falar uma mesma linguagem, exegética, ou pelo menos a chegar o mais próximo possível do que os textos querem realmente dizer na sua base central. Revelar um segredo milenar escondido faz parte da interpretação das Escrituras, este é o desígnio deste trabalho.
O texto está estruturado em três capítulos.
×          Capitulo um mostrará o método Judaico do primeiro século na interpretação das escrituras, a introdução à Hermenêutica e à Exegese usada, e também apresentará como o Novo testamento foi influenciado por este método.
×          Capitulo dois mostrará os caminhos da interpretação, até a idade média, e sua influência histórica.
×          Capitulo três mostrará o método PARDES, sua aplicação na interpretação das Escrituras Sagradas, a aplicação do método e seus derivados. 

1              MÉTODOS JUDAICOS PARA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

1.1.INTRODUÇÃO À HERMENEUTICA.

A principal coisa que o orador deve avaliar é, seguramente, a hermenêutica. Várias pessoas não admitem o nome e nem o seu lugar!  Hermenêutica: a arte de interpretar textos, respondem os dicionários.
Lembrando mais uma vez o que Pedro (70 d.C.) em sua carta afirma que há certas coisas défices de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição. Infelizmente temos, em nosso meio, mestres que se dizem conhecedores das escrituras, mas que são piores que alguns leigos, biblicamente falando.
Podemos dizer que hoje temos muitos interpretes das escrituras buscando os seus próprios interesses eclesiásticos, como foi, no Reino do Norte, Israel e seus reis interesseiros. Lembrando também do profeta Balaão, temos de saber que a arma principal de um verdadeiro cristão são as Escrituras, com suas interpretações corretas, com textos dentro de contextos, para não ter pretextos.
Um dos motivos da perseguição em relação à Bíblia sempre foi por causa das interpretações que faziam dela, tanto para amaldiçoar como para abençoar, os que mereciam, no ponto de vista humano e muitas das vezes carnal. 
Levemos em consideração que toda a Escritura Sagrada foi realizada por diversos homens, com culturas e épocas diferentes, estes santos homens de Deus escreveram conforme a ciência e os princípios “hermenêuticos”, com padrões escriturários de sua época, os quais lhes foram proporcionados, sendo todo o trabalho inspirado por Deus.
Sabemos que estes escritores tinham sua forma literária de escrita, às quais eles aprendiam nas Escolas da época, com suas habilidades e gostos pessoais, tais como: Esdras: sacerdote; Salomão: Rei, poeta, pensador e filósofo; Davi: Rei e guerreiro; Amos: pastor; Daniel: estadista; Pedro: pescador, Paulo: Fariseu, entre outros. Se avaliarmos desde Moisés, o qual escreveu o Pentateuco (Torah), cerca de trezentos anos antes dos mais antigos pensadores e filósofos, Gregos e Asiáticos, como Tales, Pitágoras e Confúcio, temos de levar em consideração que a hermenêutica escrita e usadas nestes períodos longínquos eram diferentes das de hoje. Surge então a seguinte pergunta: Como poderemos interpretar as escrituras usando somente métodos modernos, sem conhecimento aprofundado no método o qual toda a escritura foi escrita?
Observamos a necessidade urgente de conhecimento e da boa interpretação para que possamos ter um bom estudo das Escrituras. Certos ditos mestres das Escrituras têm alguma ou total dificuldade no momento de realizar uma boa interpretação, isso ocorre pelo simples motivo de esses tais mestres não conseguirem compreender alguns textos que, para eles, não passam de imaginários, irreais, simbólicos, ilustrados em parábolas ou literais. Uma boa hermenêutica precisa andar por um caminho seguro e conter uma interpretação na linguagem bíblica, não na humanista.  Algum conhecimento de hermenêutica não só as livraria de tal dificuldade, como as persuadiria de que tal linguagem é a divina por excelência, como é a mais científica e literária.
Porquanto o que de Deus se pode conhecer... Deus lhes manifestou; porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidas por meio das coisas que foram criadas (Rom. 1:20).

Tendo um olhar macro e, logo em seguida, um olhar micro do universo, neste último encontraremos nas escrituras as revelações do macro de Deus. Como, portanto, uma “micro hermenêutica” poderá revelar o Macro de Deus, nas Sagradas Escrituras? Creio que a resposta está na hermenêutica revelada, não só na simplicidade das palavras, mas, também, na organização destas, na união das palavras, frases, textos e contextos e, por fim, descobrir os segredos do Macro Deus na Macro escritura. Para tanto, precisamos de homens, mulheres, jovens, velhos, servos de Deus que possam interpretar os segredos contidos nas escrituras, que foram também dadas a homens fieis, como o querido de Deus, Daniel, que recebeu a Palavra revelada por Deus, para ficar escondido até que chegasse o momento dela ser interpretada, através de uma hermenêutica inteligente, logo após a multiplicação do conhecimento humano. (Dn.12:4).
Apesar de Deus se revelar aos homens usando uma linguagem humana, em sua manifestação terrena veio como Homem e se comunicou como tal, para nos ensinar o que Ele queria revelar, o segredo messiânico nas escrituras, do qual, até então, nem os letrados exegetas das escrituras haviam conseguido enxergar, o messias.
Por isso precisamos ver que a Escritura Sagrada é mais do que um livro poético, histórico, ou, para muitos, um romance que revela a ciência geográfica, cultural ou política de um povo, o qual encanta e recria, na nossa imaginação fértil, o que poderíamos aprender com a leitura de sua paginas, brancas ou amarelas. É preciso analisar que o estudo não se baseia em uma interpretação somente incorpórea, divina e espiritual, mas, também, no propósito confesso diametralmente em suas palavras.
Em resumo, lembremo-nos de que a palavra de Deus, mostrada por tamanha gama de pessoas, culturas, épocas distantes, traz conhecimentos de céus, terras, do visível e do invisível espiritual e material, eternidade e tempo, com linguagem e símbolos, que para estes era tão simples e normal, pois fazia parte do seu mundo. Nisso vemos a necessidade de uma hermenêutica e suas ferramentas de auxilio ao interprete que decidiu andar pelo caminho da interpretação das palavras, textos, frases, ensinamentos e pensamentos.

1.2.EXEGESE NO PRIMEIRO SÉCULO.

Antes de falarmos da exegese no primeiro século, vamos lembrar como tudo começou, para facilitar a linha de pensamento.
Um texto é formado de letras, palavras e frases. O Alfabeto foi criado no Oriente Médio, antes disso as pessoas usavam figuras, desenhos, como por exemplo, no Egito, em que se escrevia por hieróglifos, uma escrita pictográfica, sendo usado ainda hoje em algumas regiões.
Falamos que a bíblia mostra a verdade absoluta nas suas palavras e é assim que devemos interpretá-la. Precisamos compreender que a bíblia foi escrita através de regras, normas de lógica e linguagem, que devem ser aplicadas à sua interpretação. Não se lê um jornal como se lê um livro poético e muito menos um livro técnico de engenharia. Tempo, objetivo, lugar e circunstância afetam a forma com que os textos foram escritos, e como serão lidos e compreendidos.
A bíblia foi escrita contendo variações linguísticas, culturais, usando normativas em gramaticas regionais, em suas épocas e períodos, os quais afetam a forma com que os textos podem ser lidos, interpretados e compreendidos.
No primeiro século, dentro da cultura literária judaica, as Escrituras (Tanakh, A.T; e a Brit Hadashah, N.T) foram escritas, estudadas e interpretadas, usando sete regras importantes, as quais foram criadas e formuladas por Hillel (60 d.C.) o qual foi presidente do sinédrio em Jerusalém no ultimo ano do primeiro século d.C.. Seu colega acadêmico nesta posição foi Shamai. Os dois deixaram regras de ouro como o ensino que se encontra nos livros judaicos b.Shabbat 31ª e a transcrição para Mateus 7:12.. Hillel era pai de Gamalieu, o qual ensinou as literaturas e escritas e interpretação judaica ao Apóstolo Paulo (Sha’ul).

1.2.1.                  Exegese como formação no Novo Testamento.

Neste paragrafo do trabalho iremos apresentar em resumo as Sete regras literárias de interpretação, escritas no primeiro século, as quais os escritores da Nova Aliança usaram para relatar, ensinar, doutrinar as igrejas e seus responsáveis líderes.

1.2.1.1.Kal Va-hômer (Leve e pesado ou a expressão latina, a fortiori)

 Este método escriturário mostra a ideia das palavras que são mais importantes, independente de serem idênticas ou similares. Embora pareça a primeira vista complicado, ou confuso, ele não é. Exemplificando em uma palavra conhecida nas escrituras, que é a palavra PECADO, mesmo sendo uma única palavra, encontrada nas escrituras, ela foi escrita em níveis de interpretações o qual se vê e se traduz como CONSEQUÊNCIAS DO PECADO. Observamos, principalmente no Antigo Testamento, que o Pecado do adultério era interpretado como um GRANDE pecado, e este levava à morte por apedrejamento; enquanto para outros pecados, bastavam dois pombos para se obter o perdão.
No Novo Testamento vemos Jesus, o Cristo, e seus discípulos os quais aprendem também a ler e escrever dentro da sua cultura literária judaica. Jesus Cristo mostra claramente essa forma de pensamento em suas palavras registrada em Mateus 5:17-20, tais palavras chave no texto são: violar, menores, mínimo, porém, grande, exceder, jamais. Esta é a linha de pensamento Kal Va-hômer de Jesus, uma linguagem Judaica literária para época.
Outra passagem demonstra melhor esta técnica de escrita literária judaica, no Novo Testamento, Kal Va-hômer, em Mateus 6:25-33.
Todo o texto mostra claramente o clássico Kal Va-hômer. Se Deus cuida dos pássaros (menor) quanto mais cuidará do homem (maior)? Mesmo tendo tudo sido criado por Deus, há o que é maior e mais importante, o homem.

1.2.1.2.G”zerah Shavah (Expressão equivalente –Lit. “corte igual”)

G”zerah Shavah possui uma identificação mais simples nos textos, por se tratar basicamente de analogias, ou seja, é um caminho cognitivo que transfere informações, ou seu significado, de um sujeito como fonte para outro sujeito como alvo, o qual também pode significar uma expressão correspondente do processo linguístico. Texto, palavras, frases; as quais foram escritas em analogia, e em sua raiz são similares, em duas passagens diferentes. Descobrir a analogia permite ao intérprete aplicar os mesmos princípios, conclusões e aplicações a ambos os textos e situações, fazer uma “halacha”.
Em exemplo do que encontramos em uma G”zerah Shavah judaica está claramente registrado em Hebreus 3:6 até 4:13, ao compararmos expressões semelhantes nas palavras, raízes, do Salmo 95:7-11 e Genesis 2:2, aparecem termos como: “obra”, “descanso”, “dia” e “hoje”. Por definirmos estas palavras na mesma ideia, com uma mesma raiz, a interpretação deverá ser aplicada uma à outra, já que os textos estão ligados à mesma ideia, ou raiz, um do outro, não podendo dar outra interpretação de ensino. Portanto, a aplicação pode mudar, mas o ensino será o mesmo.

1.2.1.3.Binyan av mikatuv echad (Compor uma família a partir de um texto)

 Quando uma ideia é encontrada em vários textos diferentes. Na cultura literária judaica bastava um judeu começar a citar um texto em sua fala, ou escritos, que todos os ouvintes, leitores, ligavam aquela frase ao seu texto de origem e aos seus ensinamentos. Em outras palavras, bastava meia dúzia de palavras citadas para que uma mensagem fosse transmitida. O locutor tomava a ideia, o ensino principal do profeta, rei, etc, para montar uma mesma família de pensamentos e ensinos. Não é somente pegar uma palavra isolada, à qual se ouviu ou leu, mas observar os fatos no texto, a fim de ligar as frases ou palavras no contexto citados.
Encontramos Binyan av mikatuv echad (famílias textuais) praticamente em todo o Novo Testamento, ligando esta ao Antigo Testamento, tendo como exemplo Hebreus 9:11-12, aplica-se a palavra sangue igualmente Exodo 24:6-8, enquanto o termo aliança apresenta conexão em Jeremias 31:31-34. Aquele que fala aos Hebreus (60-90 d.C.) conecta a ideia do Sangue com a Nova Aliança, “sem derramamento de Sangue não há Perdão”.
Resumidamente, uma Binyan av mikatuv echad, ou família textual, é composta de um texto cuja ênfase traz referência a uma ou duas palavras de outro texto, sendo possível notar que, tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento, foram escritos usando este método, assim, todos aqueles que os liam tinham de procurar a ligação textual, quando citado pelo autor ou locutor.

1.2.1.4.Binyan av mish”nei ketuvim. (Compor uma família de dois ou mais textos)

Este princípio, encontrado nas literaturas Judaicas, predominantemente no primeiro século, conhecido como Binyan av mish”nei ketuvim, é semelhante ao anterior, Binyan av mikatuv echad (Compor uma família de um texto). A diferença é a maneira de se aplicar o conceito de dois ou mais textos em um só.
Podemos tomar como exemplo a situação em Hebreus 1:5-14, onde o escritor usa a Binyan av mish”nei ketuvim para provar que Jesus, o Cristo, é maior do que os Anjos, através da combinação com os textos de Salmos 2:7 e 2 Samuel 7:14, e com vários Salmos, em contextos Messiânicos: Hebreus 1:5 (Sl 2:7 e 2Sm 7:14) v.6 (Sl 97:7) v.7 (Sl 104:4) v.8 (Sl 45:7,8; 6,7) v.10-12 (Sl 102:26-28; 25-27) v.13 (Sl 110:1).
Se bem observada, a Carta aos Hebreus é rica de famílias textuais, sendo o principal motivo disso o fato de o escritor direcionar suas palavras a Judeus, os quais aceitavam Jesus de Nazaré como o verdadeiro Messias, tão aguardado por eles. Neste caso especifico o escritor trabalha muito a técnica Binyan av mish”nei ketuvim, por ser uma técnica escriturária muito admirada, que torna fácil a examinação das escrituras proféticas, o Antigo Testamento, conhecida como Tanakh, até hoje.

 1.2.1.5            K”lal uf”rat. ( Do Geral para o particular) “Temático”.

Este princípio escriturário, K”lal uf”rat, assim como os outros, é realizado desde Moisés, na escrita do livro do Gênesis, até João, em Apocalipse. Esse método de interpretação judaica nos traz informações textuais com mais propriedades e, como cada método tem o seu estilo literário, o K”lal uf”rat não ficaria de fora. Neste, portanto, trata-se de trabalhar um tema ou assunto base; às vezes começando com o assunto principal e, no decorrer do texto, os subtemas ou detalhamentos do tema central são apontados, ou, por outras vezes, podendo ser iniciado com detalhes que, ao final, revelam ou esclarecem ao leitor o objetivo central.
Vejamos em Levítico 23:2-6, cujo assunto principal era “A festa do Senhor”, que seria proclamada como santa convocação. Após esta comunicação temática, o escritor começa e descrever os detalhes do tema, inclusive com uma lista das festas e de como cada uma delas deve ser observada.
Sendo o Apóstolo Paulo um fariseu, o qual teve toda a sua preparação aos pés de Gamaliel - este que herdou os princípios do seu pai, o Rabino Hillel, aquele que abriu as técnicas para todos os judeus que queriam aprender a interpretar as Escrituras; Paulo escreve todas as suas cartas usando os mesmos princípios, para o qual usaremos apenas um texto como exemplo, que se encontra em 2 Co 6:14-16 (50-60 d.C.): Não estejais em jugo desigual com incrédulos; identificasse que este é o tema principal, geral. Podemos observar que no decorrer do texto ele vai detalhando o tema geral em um conjunto de explicações, escrita  K”lal uf”rat.


1.2.1.6.Kaiotze bo mimakom acher. (Analogia feita de outra passagem).

            Sob este princípio de escrita, e, consequentemente, interpretação literária, o escritor, no momento da exposição textual, escolhe o princípio que será estruturado. O Kaiotze bo mimakom acher trabalha a escrita usando de comparação entre duas passagens, que parecem contradizer uma a outra, somando-se a uma terceira, a qual tem a mesma ideia geral. Este princípio judaico de escrever se torna um pouco diferente de outras culturas, consequentemente dificultando a leitura e também a sua interpretação. É interessante que encontramos esta forma escrituraria em quase toda a Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) e o Novo Testamento.
Creio que muitos erros de interpretação bíblica (inerrância) acontecem por não se conhecerem as técnicas judaicas usadas nas suas literaturas, lembrando que nem tudo foi ensinado ao “novo mundo religioso” Grego Romano, por ética religiosa judaica.
Para que posamos entender melhor o método Kaiotze bo mimakom acher, iremos apresentar estes exemplos retirados dos textos sagrados:
Em 2 Samuel 24:9 e 1 Crônicas 21:5, sobre o censo do rei Davi, é visto uma incongruência muito grande entre soldados e espadas. A solução deste possível erro está na leitura de mais um texto, em 1 Crônicas 27:1-22, que pode ser usado para resolver esta discordância numérica. Lendo com muita atenção os três textos, observamos que não foram incluídas duas tribos, Gade e Issacar, que não foram sequer contadas neste censo. Esta observação textual foi feita pelo Dr. Gleason Archer (1982) na sua Enciclopédia de Dificuldades Bíblicas, publicada pela Editora Vida Nova, em 1997.
Para concluirmos este princípio usaremos um texto no novo testamento, que explica uma possível contradição em Isaias 28:16, onde se mostra a pedra angular, aceita e acreditada amplamente, enquanto que por outro lado, em Salmos 118:22, a pedra angular será rejeitada. Para acharmos esta solução textual inserimos o texto de Isaias 8:13-15, mencionando que os desobedientes tropeçam, mas os justos servirão à Deus fielmente.
O apóstolo Pedro (60-96 d.C.), conhecedor deste princípio, usa essa interpretação textual em sua primeira carta, em 2:4-8, ligando Isaias 28:16 com Salmos 118:22, terminando com Isaias 8:14, para explicar a pedra angular.


1.2.1.7.            Davar há-nilmad me-inyano. (Explicações obtidas do contexto)

De todos os princípios judaicos, os quais estes escreveram as suas literaturas, principalmente no primeiro século, no qual encontramos o Novo Testamento, o princípio Davar há-nilmad me-inyano nos convida a procurarmos as respostas textuais no seu contexto. Infelizmente muitos mestres trabalham o contexto do texto em uma simplicidade mortal, aquém da real intepretação textual.
Contextualizar uma passagem bíblica não é somente usar-se de um capítulo, versículo ou palavra lida no texto, vai além disso.  Davar há-nilmad me-inyano nos convida a procurar segredos escondidos, os quais, muitas vezes o escritor prefere esconder em outro texto. O apóstolo Paulo (45-55 d.C.) trabalhou muito sobre este método na carta aos Gálatas, se lermos estes escritos sem contextualizar da maneira correta, iremos fazer uma intepretação equivocada.
Este método é o que usamos nos nossos estudos teológicos, o aprendemos nos seminários, em metodologia de interpretação bíblica. Por este motivo não é preciso aprofundamento na metodologia conhecida como contextualização, sabendo-se que o método Davar há-nilmad me-inyano se torna muito parecido com a metodologia do contexto bíblico imediato e do contexto bíblico amplo. Lembrando que contexto bíblico imediato nada mais é do que a observação textual anterior e posterior da leitura nas observações, já o contexto bíblico amplo nos leva a observar outros livros tanto do Antigo Testamento como do Novo, os livros apócrifos para contextos históricos, cultural, geográfico, arqueológico e afins.


1.2.1.8.Hekkesh. (Chocar as pedras)

Embora este princípio exegético de intepretação, muito usado no primeiro século, não constasse na lista dos maiores mestres conhecido na época, como o rabino Ishmael e o rabino Hillel, era, por outro lado, muito usado desde o primeiro século, até nos dias de hoje, portanto, é muito importante para que possamos unificar todos os ensinamentos bíblicos, sem precisar entrar em desacordo entre estes.
Esta técnica de intepretação bíblica era, e é, a mais trabalhosa e difícil. O motivo é que o interprete, exegeta, deveria conhecer todos, ou quase isso, os ensinos bíblicos, sabendo separar os ensinamentos antibíblicos daqueles que não estão revelados na bíblia. Para o melhor entendimento desta questão, lembremos que tudo que é bíblico, ou seja, o que Deus incentiva a fazer é uma ordem, mandamento, que ao realizarmos seremos abençoados, não se pode deixar de fazê-lo. Como exemplo desta afirmação temos, em Romanos 13:8, quando o Apóstolo Paulo escreve que não podemos dever nada a ninguém, a não ser o amor fraterno, o não dever nada a ninguém é bíblico, devemos colocar em pratica na nossa vida.
O antibíblico se resume nas ações que desagradam a Deus; pois está registrado nas escrituras o que é proibido ser feito; é a desobediência ao que foi escrito claramente. Há exemplo disto em Lucas 18:20, com a citação aos mandamentos de não matar, não adulterar, não furtar e não proferir falso testemunho contra o seu semelhante, compreendendo-se que ao realizar uma dessas ações, a pessoa será considerada antibíblica.
O que, então, se fazia com as questões que as escrituras não mencionavam claramente? Muito simples: dar só uma dragada em um cigarro de palha, uma vez a cada cinquenta anos, é errado biblicamente? Onde se encontrariam resposta nas escrituras para pergunta tão especifica? A resposta é: não se encontra tal resposta em uma leitura simples (Pshat). O que se fazia no então? A Resposta estava no método Hekkesh, o chocar as pedras.
Hekkesh, ou chocar as pedras, na cultura hebraica, principalmente no primeiro século d.C., era pegar um ensino bíblico ou antibíblico e criar um terceiro ensinamento, que não se encontra nas escrituras, sem ferir nenhum mandamento da Tanakh (A.T). Para que isso viesse a ocorrer, o exegeta bíblico deveria ter conhecimento profundo das escrituras. O que demanda um estudo demorado e minucioso.
Os apóstolos, de modo geral, trabalharam este método Hekkesh nas suas escritas, no Novo Testamento. Quem mais a usava era o Fariseu, mais conhecido no Novo Testamento, que foi usado por seu Mestre, para escrever muitas Cartas orientando milhares e milhares de Cristãos no primeiro século, o Apóstolo Paulo. Em suas cartas Paulo (50-100 d.C.) trabalha ensinos do Antigo Testamento à luz de uma nova Aliança de Boas novas. Paulo só poderia ter aprendido diretamente daquele que o chamou, Jesus de Nazaré, o Cristo, da parte de Deus entre os homens.
Para deixar mais claro este princípio, muito conhecido no primeiro século, vamos citar Jesus, o qual conhecia o método muito bem. Em Mateus 5:27-28, Jesus Cristo diz: Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Logo após Ele faz uso da Hakkesh: Eu, porém, vos digo que qualquer um que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. Jesus uniu, portanto, dois dos mandamentos registrado em Êxodo 20, um que diz para que não se cometas o adultério, com outro onde se lê para não cobiçar a mulher do próximo. Este é um exemplo da Hekkesh na linguagem Judaica. Só os maiores e melhores Rabinos nos dias de hoje tem condições de realizar um Hekkesh. Jesus, o Cristo, aplicava este método em suas catequizações com maestria.
Quando Jesus diz para Ouviste o que foi dito... Eu, porém, vos digo...; este trecho aparece muitas vezes em literaturas rabínicas, quando estes estão trabalhando nas interpretações da Torah, (Pentateuco), por exemplo.
A leitura de um texto é feito em quatro níveis de interpretação:
Pshat se refere a quando o leitor faz uma interpretação somente nas palavras lidas no texto. Este tipo de interpretação é simples e pessoal, servindo muitas vezes apenas para a pessoa e suas necessidades, na interpretação Hekkesh, o Pshat fica quase sem utilidade, por se tratar de uma observação simples das palavras. Para obter uma boa Hekkesh será necessário usar todas as ferramentas do método PARDES, o que inclui Rêmez, Drash e, finalmente, chegar ao Sod da interpretação. Este assunto já foi iniciado neste trabalho e daremos maiores esclarecimentos no decorrer do PARDES.
  

2       OS CAMINHOS DAS INTERPRETAÇÕES

Na idade media encontramos uma variedade de métodos de interpretações bíblicas, pelo simples motivo do mundo se encontrar em uma era rica de informações literárias abertas a todos, ou quase todos. Não ficaria de fora a exegese judaica neste período, onde encontramos abastadas obras exegéticas, que muitas incluem os seus comentários. De um modo geral os exegetas, muitos destes sendo judeus, mostraram as suas obras com mais literalismo exato e um alegorismo inspirado na midrash.
Encontramos vários exegetas que contribuíram com suas observações textuais nas escrituras e, com isso, apresentaram uma variedade de ferramentas que ajudaram nas interpretações, as quais muitos usamos até nos dias de hoje.

2.1 A IDADE MÉDIA NAS INTERPRETAÇÕES.

Neste ponto do trabalho iremos ter um breve panorama de alguns exegetas e métodos, os quais apresentaram suas ferramentas para que possamos, hoje, fazer uma interpretação textual das escrituras com mais riquezas de informações, sobre as quais os textos transmitem aos seus leitores.
 Iniciamos pelo século VII-X com Massorá, vocalização e padronização de textos bíblicos. Os massoretas eram escribas judeus que tinham a responsabilidade de manter a tradição e as escrituras hebraicas, e seus comentários, o mais preciso possível de uma leitura hebraica; todo este trabalho para não ocorrer falhas nas leituras e suas interpretações. Salientei este ponto para desmitificar uma história contada nos seminários, de que estes escribas eram monges cristãos do Séc. IX.. O termo massoreta vem do mossorá, do Hebraico, significa tradição, legar, transmitir. Como no hebraico não temos vogais, somente consoantes, estes escribas, os massoretas, desenvolveram uma técnica de leitura através de símbolos vocálicos que, colocados junto com as letras hebraicas, permitiam aos estudantes a leitura e melhor interpretação dos textos das escrituras.
Os massoretas também desenvolveram símbolos para acentos musicais, os quais foram denominados de Taamim, às vezes chamados de guinot, notas ou melodias.
Já entre os séc. IX e X, encontramos um dos maiores exegetas conhecidos, o qual teve grande responsabilidade nas interpretações textuais das escrituras, seu nome é Saadia Gaon (882- 942 d.C.). Saadia foi um exegeta medieval nascido em ambiente Árabe-Islâmico, seu trabalho se estendeu pelo norte da África até as regiões Sefarad (Espanha em Hebraico). Contribuiu muito para a tradução e estudo das escrituras, também realizou vários comentários bíblicos que ajudaram na interpretação de textos polêmicos. Seus comentários se basearam nos cincos primeiros livros da bíblia, juntamente com Provérbios, Jó e Isaias; traduziu, inclusive, o Pentateuco para o Árabe. Acreditava firmemente de que todas as palavras registradas no Pentateuco eram divinas e precisavam de atenção especial. Saadia trabalhava a ideia que todas as palavras que tinham uma razão logica deveriam ser interpretadas nas suas raízes, e as palavras que não tinham uma razão lógica, ou que não saiam de uma razão racional, deveriam ser trabalhadas e compreendidas em um sentido metafórico e alegórico, como, por exemplo, a passagem da Serpente que fala, em Gn. 3,1 , e o Asno que dialoga com Balaão, em Nm. 22,28.
Cabe notar que a metodologia filosófica adotou um caminho antes esquematizado pela exegese de Saadia Gaon, sob influência do neoplatonismo. Esta disciplina metodológica da filosofia e do seu aproveitamento à religião tornou-se uma descrição característica da cultura judaica na Espanha.
Seguindo para o sec. XI encontramos um grande exegeta denominado Salomão Gabirol. RASHBAG (1021-1057) sendo um grande Poeta, um pensador analítico e filósofo, ficou conhecido pela sua obra Mekor Chaim (A Fonte de Vida) a qual foi escrita totalmente em árabe e depois apresentada na língua latina. Não emprega evidências bíblicas para suas declarações, fundando-se apenas nas evidências coerentes. Ampliou a definição moral do texto bíblico, a fim de confirmar a racionabilidade do próprio texto. Gabirol tinha suas interpretações textuais contrárias, muitas vezes, ao judaísmo tradicional, sobre Deus e criacionismo. Atingiu, então, o primeiro valor de aproveitamento das noções filosóficas de sua época, a disciplina exegética bíblica. Estudava um método crucial e rigoroso, não duvidava em ajustar o texto massorético, quando este não se apropriava às normas gramaticais.
Neste século encontramos outro exegeta bíblico que ficou muito conhecido por suas interpretações, com clareza, simplicidade e por ser conciso em tudo; ele era conhecido como Rashi (1040 – 1105). Os seus comentários eram bem apreciados por todos os catedráticos da época, por serem interpretações literais dos textos, usando o método Peshat. Esta forma de interpretações é vista ainda hoje em muitos teólogos, pastores, nos púlpitos de suas igrejas, ou salas de aulas, no domingo com leigos bíblicos. Usando uma linguagem simples e falando somente o que se lê, palavra por palavra no texto. Não pelo fato da interpretação Peshat ser simples, quase literal, que Rashi não usava o método Remez, Drashi e até o Sod (o qual iremos apresentar mais detalhados no ultimo capitulo deste trabalho) para confirmar a sua interpretação bíblica Pshat: simples, palavra.
Este método de Rashi se encontra, muitas vezes, no meio acadêmico Cristão. Por ser baseado diretamente nas palavras escritas com seu sentido literal, as palavras encontradas nos texto com sentido de parábolas, as Agadot, ele trabalha como alegorias para explicar o contexto do texto. Dessa forma Rashi se destacava e aos seus comentários bíblicos.
Ele era tão fixado em letras e palavras que falava não só o Hebraico, mas também o Francês Arcaico, o qual usava para suas compreensões textuais, chegou a criar sua própria escrita, conhecida como Escrita de Rashi, uma forma semi cursiva de escrita do hebraico, também denominada Mashket.
A partir do sec. XII, encontramos um dos mais respeitados escritores, comentaristas, filósofo, médico de renome e um excelente exegeta bíblico. Sua obra magna, “Repetição da Torá”, é analisada atualmente como a mais bem-conceituada obra, na qual esclarece a base da fé judaica e, da qual, o Pentateuco é perfeito em sua escrita literária, seu nome é Maimônides RAMBAM (1135-1204).
Por causa da aproximação dos Judeus com o Cristianismo e outras religiões, Maimônides vê a necessidade de trabalhar as principais crenças judaicas conhecidas como os Treze Princípios da Fé, o Ikarim, e escreveu o livro O Guia dos Perplexos (1191). Neste livro, entre os capítulos 17 a 19, Maimônides interpreta o Salmo 77, nas referências da morte dos egípcios no grande mar, alegando que as águas viram-nos e ficaram com medo, as profundezas tremeram... a terra tremeu e estava confusa, ele afirma que um milagre não pode provar aquilo que é impossível acontecer, só serve para provar o que é possível. Maimônides rejeita tudo que sai da lógica e da razão, em uma interpretação literal e textual, de mente mais esclarecida. Por ser externamente racional em suas interpretações, ele socava os mais místicos tradicionais, e até alguns exegetas, que trabalhavam os textos contra a sua forma literal.
Pensando no séc. XIII, não poderia deixar de destacar um interprete das escrituras que deixou seu legado na exegese bíblica acadêmica, este sendo Nachmânides – Nachmani -Ramban (1194-1270), espanhol, médico, comentarista bíblico e poeta. Nachmânides se preocupa com a compreensão das sequências textuais bíblicas e seus significados mais profundos, sendo um crítico das interpretações alegóricas de outros Exegetas e Sábios da época. Em seus comentários bíblicos ele usa mais a psicologia nas interpretações e a sua racionalidade nas passagens bíblica.            Em Roma no ano de 1480 foi impresso pela primeira vez o seu comentário bíblico.
Por fim, poderia trazer vários interpretes e suas obras, que foram reconhecidos na Idade Média até nos dias de hoje, mas como esta não é a proposta do trabalho, mas sim mostrar os caminhos das interpretações na idade media, dentro da cultura Judaica, finalizaremos com estes apresentados até no momento.
A seguir entraremos na influência histórica nas interpretações bíblicas, onde colaboraremos com, não só interpretes da linha Judaica, mas também interpretes da linha cristã.


2.1.1 INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS NAS INTERPRETAÇÕES BÍBLICAS.

Poderíamos dizer que a forma de interpretarmos as escrituras sagradas vem do judaísmo Rabínico, conhecido como Os Sábios, ou dos Teólogos Cristãos, pais da igreja primitiva desde o primeiro século da Era Cristã? A resposta eu deixarei no final deste capítulo.
Desde o primeiro século, quando o Cristianismo começou a se desenvolver no mundo antigo a interpretação das escrituras já ocorria, não só no meio acadêmico judaico, mas, também, em outras culturas, como grega e romana. Não podemos negar que ambas as culturas influenciaram a forma de interpretarmos a Bíblia nos dias de hoje.
Cremos que a cultura greco-romana teve mais influência na forma cultural litúrgica, deixando demostrar um pouco a cultura judaica.
Por motivo diverso, sob os quais não colocarei a minha opinião no assunto o qual iremos decorrer, os métodos de interpretações Rabínicos caíram em descrédito no meio de algumas escolas cristãs, mesmo que não por todas, mas por um motivo central: os Judeus rejeitaram o Seu Messias, chamado por eles de Yeshua, vindo do meio deles. Deixando este ponto com aparências antissemitas à parte, cujo motivo será entendido mais à frente, houve muitas escolas teológicas, ou escolas de interpretes, que influenciaram no primeiro século, durante a idade media e até hoje. Assim, não poderia deixar de destacar um dos maiores intérpretes do nosso meio cristão, que influenciou o mundo após 1517 e deu a liberdade para os intérpretes, dos quais muitos eram leigos e perseguidos; seu nome: Martinho Lutero.
Martin Luther era alemão, foi um monge agostiniano e catedrático de teologia germânico, tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante, levantou-se veementemente contra diversos dogmas do catolicismo romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências. Essa discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95 Teses, em 1517, com um contexto de conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel. Sua recusa em retratar-se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X, em 1520, e do imperador Carlos V, na Dieta de Worms em 1521, resultou em sua excomunhão da Igreja Romana e em sua condenação como um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico.
Lutero sugeriu, com apoio em sua interpretação bíblica, principalmente da Epístola de Paulo aos Romanos, que a salvação não poderia ser alcançada pelas boas obras ou por quaisquer méritos humanos, mas tão somente pela fé em Cristo Jesus, sola fide, único salvador dos homens, sendo gratuitamente oferecida por Deus aos homens. Sua teologia desafiou a infalibilidade papal em termos doutrinários, pois defendia que apenas as Escrituras, sola scriptura, seriam fonte confiável de conhecimento e da verdade revelada por Deus. Opôs-se ao sacerdotalismo romano, isto é, à consagrada divisão católica entre clérigos e leigos, por considerar todos os cristãos batizados como sacerdotes e santos. Aqueles que se identificaram com os ensinamentos de Lutero acabaram sendo chamados de luteranos. (16)
Em seus últimos anos, Lutero mostrou-se radical em suas propostas contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive considerado posteriormente um antissemita. Essas e outras de suas afirmações fizeram de Lutero uma figura bastante controversa entre muitos historiadores e estudiosos. Além disso, muito do que foi escrito a seu respeito sofre da reconhecida parcialidade resultante de paixões religiosas.

Não podemos negar que Lutero desenvolveu certa liberdade na interpretação bíblica, deixando assim um legado de interpretações do mesmo tipo, para todos os que pudessem interpretar a Santa Escritura. Mas não podemos esquecer que Lutero também influenciou muitos com a sua linha religiosa radical, e foi contra os métodos judaicos de interpretações bíblicos quando ele afirmou:
Finalmente, no meu tempo, foram expulsos de Ratisbona, Magdeburgo e de muitos outros lugares… Um judeu, um coração judaico, são tão duros como a madeira, a pedra, o ferro, como o próprio diabo. Em suma, são filhos do demônio, condenados às chamas do Inferno. Os judeus são pequenos demônios destinados ao inferno. (PELIKAN, 1956, p. 2230).
Queime suas sinagogas. Negue a eles o que disse anteriormente. Force-os a trabalhar e trate-os com toda sorte de severidade … são inúteis, devemos tratá-los como cachorros loucos, para não sermos parceiros em suas blasfêmias e vícios, e para que não recebamos a ira de Deus sobre nós. Eu estou fazendo a minha parte. (O’HARE, 1987, p. 290).
Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga infernal – os judeus. (TALMAGE, 1975, p. 34-36)
Coloquei estas poucas informações sobre os intérpretes que influenciaram O SEU MUNDO, formando outros intérpretes, teólogos dentro da sua linha particular e muitas vezes restrita, por vários motivos.
Por causa de vários denominados teólogos, Mestres, Pastores, Bispos, Apóstolos, Padres, Sábios, Rabinos, Exegetas, e afins, que influenciaram a forma de interpretar as escrituras na história e, depois, da liberdade quase descontrolada da livre interpretação conhecida como A do Espirito Santo, não pretendo negar a sua atuação, porém não podemos negar que vivemos uma teologia cristã livre para interpretar as escrituras como se queira, com as bases que influenciaram, e ainda influenciam, assim como a sua base doutrinária que podemos muitas das vezes observar que não e bíblica. Parece que fomos influenciados historicamente para interpretar as escrituras e para tirar aproveito de situações que possam incomodar, religiosamente falando.
Expus esta forma de pensar, quase particular, neste tópico, só para confirmar a necessidade de trabalharmos em um método mais preciso e eficaz, para interpretarmos as santas escrituras respeitando a todos, sem deixar as bases bíblicas e administrando o que é antibíblico, nas ações de toda criatura do Criador.
Temos desafios contemporâneos nas nossas escolas teológicas, desafios não para trocar tudo que foi aprendido, jogar fora os materiais ou, muito menos, colocar fogo em livros, mas o nosso desafio será unir forças e conhecimentos dentro do amor fraternal; universal uns com os outros, sem qualquer ecumenismo nesta questão, ou outra ação que tente unificar o mundo, mas um só povo, um só Deus, um só Senhor e um só amor em Cristo Jesus. Este será o maior desafio no próximo capitulo deste material.

3. OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA UM MÉTODO DO PRIMEIRO SÉCULO. 
Há um ditado judaico que diz que a Torá (Pentateuco) possui 70 faces. Como, porém, um estudante comum da bíblia pode enxergar todas essas faces? (SHULAM, 2013). Eu também pergunto: como um teólogo poderá interpretar toda a Santa Escritura, ver todas as faces dela?
Sei que esta pergunta parece ser um pouco ingênua. Muitos poderão ponderar: Não precisamos desenvolver nenhum outro método do qual já aprendemos. Já temos métodos suficientes para interpretarmos a bíblia. Em cima deste pensamento eu faço outra pergunta: Qual é o motivo de termos tantos teólogos, mestres os quais deram soluções para vários textos bíblicos, interpretações que confrontam radicalmente outros interpretes? Sabemos que pode haver outras interpretações do mesmo texto bíblico, as 70 faces, mas esta resposta não responde a pergunta: por que as interpretações confrontam outra interpretação? Será que há uma forma de interpretarmos os textos bíblicos de forma que todos os exegetas iriam conseguir chegar a um consenso nas suas interpretações textuais? Podemos usar como exemplos os Armanianos e os Calvinistas. Apregoamos que a bíblia não se contradiz, a palavra de Deus é perfeita, então como podemos ter algumas linhas teológicas tão contrárias uma da outra? Quem esta errado, os interpretes de renome, como Calvino, Armênio, entre outros já citados, ou a bíblia? Com certeza os interpretes e seu métodos.
Podemos responder esta questão da seguinte forma, não! Não podemos chegar em um denominador comum nas variedades de interpretações bíblicas. O motivo que a Santa Escritura foi produzida em uma época muito distante, com pessoas e suas culturas diferentes da nossa, civilizações que influenciaram os escritores e por ultimo: a bíblia foi elaborada no coração de Deus, revelando-se as suas criaturas. Mas chegara o dia que a Glória de YHWH, O SENHOR, será revelada, e junta, todos a contemplarão. Porquanto a boca de YHWH o afirmou (Isaias 40.5. KJA). Creio que a nossa limitação humana nos impede de vermos toda a verdade contida nas escrituras, não podemos esquecer que somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, todavia, sabemos que quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como ele é (1 João 3.2. KJA). A Santa Escritura foi feita para revelar a Deus e seu plano para nós, esta tudo contida nela para prover a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver; a fim de que todo homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar todas as boas ações (1Tm 3.16-17. KJA).
O desafio contemporâneo para se criar mais um método é praticamente impossível aos meus olhos, nas escolas Teológicas no séc. XXI. Falar de um método Judaico do primeiro século para muitos é ultrapassado e inviável. PARDES (acrostico de: P”shat, Remez, Drash, Sôd) foi um dos métodos usados pelos escritores e interpretes da Santa Escritura que, para muitos, pode parecer ultrapassado há mais de dois mil anos na conjuntura cristã. Mas a pergunta é: Por que não usarmos as mesmas ferramentas que os Apóstolos usaram, como por exemplo Paulo (Sha’ul), para interpretarmos as suas cartas? Ou também usar nos livros que os profetas escreveram, no Antigo Testamento, sabendo que o método foi usado por eles também?
Gostaria de desafiar os contemporâneos a ver, pesquisar, cavoucar o método com mais profundidade, seguindo o conselho do apóstolo Paulo dado aos Tessalonicenses, examinai tudo, retendo o que é bom (1 Ts 5.21).


3.1 UMA HERMENEÛTICA JUDAICA NO CRISTIANISMO.
  
Se observarmos as formas, escritas literárias, que encontramos no Novo Testamento, acharemos os mesmos métodos que as escolas judaicas lecionavam aos seus alunos. Lógico que esta afirmação precisa ser baseada em estudos e provas bíblicas e culturas da época. Este é o motivo de termos criado neste subtema, uma hermenêutica judaica no cristianismo.
 Não podemos negar que a cultura judaica influenciou a Igreja ao ponto do apóstolo Paulo ter colocado regras para Judeus e gentios, convertidos em uma nova organização religiosa, chamada Igreja. Podemos observar estas questões nas cartas aos Hebreus (60-90 d.C.) e Gálatas (45 – 55 d.C.) como exemplo. Mas a pergunta é: que língua se falava e o que o povo lia no tempo dos apóstolos? O que a igreja aprendia, que livros estudavam e qual era o processo usado de escrita e aprendizado? Vejamos.
Hoje qualquer pessoa que vá a hoje a Israel ouvira nos rádios e televisões o Hebraico, se comprarmos um jornal iremos ler o hebraico, mais esta é a mesma língua usada no primeiro século nas escolas judaicas, a resposta será não. O hebraico hoje lido e ouvido é uma língua moderna a qual foi inventada e transformada por Eliezer bem Yehuda e introduzida primeiramente nas colônias sionistas  e depois no recém estado judeus. (ROPS. 2008. P. 303).

A  Tanakh,  conhecida no nosso meio cristão como Escrituras do Antigo Testamento (bíblia hebraica), era lida na época do nascimento de Jesus o Cristo e, posteriormente nas igrejas, em hebraico. Não fazia parte da cultura se ler nas sinagogas a Tanakh em grego, mesmo sabendo que já havia a tradução dela para tal língua, chamada septuaginta. Quando encontrados os manuscritos no deserto da Judéia, foi diagnosticado que o hebraico tinha sido restaurado antes da era cristã, portanto ele pode até ter sido falado na comunidade monástica dos essênios.
O hebraico e o aramaico não foram as únicas línguas faladas nas terras santas há mais de dois mil anos; registros mostram que Pôncio Pilatos utilizou das três línguas oficiais desta época, para escrever a placa da crucificação de Jesus, que dizia Este é o Rei dos Judeus, em Hebraico (Aramaico), Grego e Latim.
Meu objetivo com esta demonstração linguística é mostrar que o hebraico era muito usado no meio religioso judaico-cristão, independente das outras línguas faladas na época. Por quase uma osmose, a cultura hebraica adentrou na linguística da igreja primitiva - quando escrevo sobre igreja primitiva, quero trabalhar somente a comunidade que se reuniam de casa em casa, antes da organização Religiosa Romana, promovida através de Constantino, como mostrado em Atos 5:42. O grego era considerado, no primeiro século, entre os Judeus que tinham aceitado Jesus como o Messias, uma língua maldita, como apresentado na carta de Paulo aos Hebreus, no Evangelho de Mateus, etc. Os homens que ensinam grego a seus filho, diziam eles, é tão amaldiçoado quanto o que come carne de porco (Sotah 9.14 e Antiquities 20.11).  
Muitos podem pensar que após as cartas, os apóstolos tiveram o seu término de escritas no ano 95 d.C,  aproximadamente com João, e que a igreja primitiva, os cristãos, liam para as pessoas as cartas de Paulo, Tiago, Mateus, etc, para evangelizar as pessoas como fazemos hoje; isso é puro engano. O hábito judaico de transmitir oralmente os pensamentos não foi abandonado no primeiro século entre os judeus-cristãos. Temos muitas provas para isso: os rabinos ensinavam oralmente, seus pareceres foram transmitidos da mesma forma; o tratado Gittin chegou a dizer que escrevê-los seria uma transgressão da lei (Gittin 60,a in OESTERLEY, 1927)
Sherira Gaon disse uma vez, os eruditos considerem seu dever recitar de memoria. Sabemos também que o termo Talmude significa aprendido de cor (OESTERLEY, 1927, p.54.). A base também exigia que os primeiros cristãos anunciassem as boas novas recitando os textos via oral, decorados, portanto a memória desempenhava um papel importantíssimo. O rabino Dostai, filho de Jani, falando pelo rabino Meir, declarou: o homem que se esquece de algo que aprendeu provoca a sua própria ruina (Pirke Aboth 4.8 in OESTERLEY, 1927).      Esta ação era tão importante e séria no primeiro século, no seio da igreja, que os alunos, discípulos, eram obrigados a decorar as passagens enormes da Tanakh, o Antigo Testamento, como também os ensinos através dos apóstolos na B’rit Hadashah, o Novo Testamento. Este método ainda se encontra nas culturas mais antigas, como por exemplo no Islã, onde é comum notar meninos decorando o Alcorão nas escolas Talmúdicas. (Josefo: Antiquities 4.8-12; Contra Apionem 2.25)
O que Jesus, seus discípulos e a sua igreja liam no primeiro século?
Não podemos negar que além de haver muita leitura decorada havia, também, muitas escrituras para aprender. Podemos até ser um pouco ousados em falar que o passatempo predileto da época era esse. Podemos afirmar que as leituras de Jesus era a Tanakh (A.T), a dos apóstolos, a Tanakh, a dos discípulos judeus, Tanakh, a da igreja de judeus e gentios, ambos a Tanakh e B”rit Hadashah.
A cultura judaica, na questão de leitura das Santas Escrituras, com o Antigo Testamento, era tão rígida e séria que ninguém poderia ter aTorah e a Tanakh em casa, apenas o livro de Ester, o qual era lido em família na festa de Purim. Alguns doutores da Torah, Lei oral e escrita, Gamaliel entre eles, ensinavam que até em tocá-las tornava impuras as mãos. Como havia na época os escribas, os quais tinham a tarefa de copiar os livros, eles mesmos não poderiam escrever nada que não estivesse sendo lido, ou seja, não poderiam escrever nada decorado, só copiado, este era um dos motivos de serem conhecido como copistas. As pessoas comuns, que queriam aprender alguma coisa sobre as escrituras, iam a uma assembleia na sinagoga, ou em uma casa, escutavam o que estava sendo lido e, aqueles que tinham condições, de uma forma ou de outra, escreviam em algum lugar para decorar (Deut. 6:9) .
Lembremos que nem todos tinham condições de comprar materiais de escritas tais como couro preparado, tintas especiais, tinteiros e canetas, sem falar que só alguns homens preparados, com autorização, poderiam fazer uma copia do que estava sendo lido oficialmente, e só eram feitas cópias pessoais, sem legitimidade. Autores de cartas não poderia apenas assinar com seu nome a carta, mas ter um tipo de carimbo, que selava a carta por fora, trazendo autenticidade do autor. O Apóstolo Paulo por ser um escritor de renome e fariseu, por importância, deveria ter também um carimbo, a fim de autenticar as suas cartas originais.  
Concluímos este ponto voltando ao princípio:
Acharemos os mesmos métodos que as escolas judaicas lecionavam aos seus alunos, seria ingenuidade falar que a igreja primitiva no primeiro século não tinha nada a ver no seu estilo hermenêutico literário com o judaísmo. Quem escreveu o novo testamento em sua quase totalidade foram judeus com o que eles tinham aprendido nas suas “escolas”, pais, mestres, sinagogas, com seu rabinos e doutores, independente da cultura grega romana que dominava a época, era proibido as manifestações no meio judaico religioso em cultura consideradas pagãs (grego, romano). Vimos na história que a perseguição foi feros ao judaísmo e consequentemente ao cristianismo por este segundo ser influenciado pelo primeiro, Roma não poderia perder o controle, principalmente da religião. Se esta crescendo uma religião e esta religião é judaica Cristã (conhecidos hoje como Judeus messiânicos) então chegou o memento do império contra atacar, destruiremos o lado negro, mataremos se for necessário, diz um romano. Lemos nas cartas apostólicas o quanto a igreja primitiva sofreu, sofreu porque tinha traços culturais de um povo odiado por todos e por tudo. Podemos ver claramente na historia da igreja Cristã, agora administrada por Roma (inicio 225 d.C) e seus poderosos governadores, uma igreja que sai evangelizando com suas campanhas de “guerras contra os pagãs ” (1.500 d.C) Roma libertou a igreja do Cristo de todos aqueles que um dia negaram a Cristo como messias. “Aceite ou morra em seus pecados”. Uma nova igreja poderosa, livre, que foi “inaugurada em 27 de fevereiro de 380 através do Édito de Tessalônica, no qual o imperador Teodósio I fez do cristianismo niceno a única religião autorizada em todo o império Romano. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_estatal_do_Imperio_Romano)

Fomos libertos, mas carregamos em nossas cartas evangélicas a cultura, ciência, a sabedoria, conselhos, a língua e exemplos de pessoas que erraram e acertaram, e acima de tudo, ganhamos o Deus deles e dos seus patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó.


3.1.1 PARDES, O MÉTODO.

Chegamos ao último capítulo deste trabalho que particularmente será de grande importância no enriquecimento dos acadêmicos e estudiosos, trazendo conhecimentos bíblicos e exegéticos aos leitores.
Iremos verificar como o método Judaico de interpretação bíblica do primeiro século, PARDES, poderá ser usado nos dias de hoje em nossos estudos. Não poderemos apresentar o método por um todo pelo simples motivo de falta de folhas suficientes neste trabalho apresentado e pelo motivo que a fórmula PARDES é quase ilimitada, exegeticamente falando, estes pontos pretendo trabalhar em outro momento com mais profundidade.
Como já apresentado neste trabalho; A igreja primitiva lia e estudava a bíblia, A.T (Tanakh) e também a bíblia, N.T (cartas) B”rit Hadashah. Qual é, pois, a vantagem do Judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muitas, sob todos os aspectos. Principalmente “porque aos Judeus foram confiados os oráculos de Deus (Romanos 3:1-2). Acredito que compreender o modo pelo qual o povo judeu interpretava e se relacionava com a Bíblia, assim como o contexto histórico e cultural no qual ela foi escrita, aumentará sua consciência dos métodos que foram usados pelos autores das escrituras.
Para abranger mais as escrituras é indispensável interpretar da forma apropriada, para não gerar equívocos, fora do contexto da mesma. Para isso, é importantíssimo saber as regras de interpretação, e a causa, pela qual o texto foi escrito e encarregado a mostrar. Primeiramente, o leitor deve compreender que, além das escrituras oferecerem conteúdos históricos, elas são a expressão do Eterno, manifestada aos homens. Sendo assim, tudo o que está documentado deve ser observado a sério.
Todo texto tem também um significado simples, pessoal, ou superficial das palavras, e todo texto tem outro nível de entendimento, que só as pessoas que sabem o que está acontecendo entendem, pois tem um significado que não está escrito nele, Pshat. No judaísmo, isso de chama PARDES, uma palavra persa que os gregos utilizaram para designar paraíso, que significa “jardim fechado”. Esse método não é ensinado nos cursos ou seminários cristãos, mas ele é básico, e é a raiz para entendermos a bíblia, e tão-somente o que está na copa das árvores. Na maioria dos seminários, os estudos são apresentados prontos, sistematicamente já mastigados e processados.
Quando um judeu está procurando entender o texto ele usa o PaRDêS, cujas consoantes, em maiúsculo, iniciam palavras que levam a um nível de entendimento diferente:
O primeiro nível é referente a letra P de Pshat ( פּשְָׁט ) – de pashut – é o "simples" significado de um versículo ou passagem.
O segundo nível é referente a letra R de Remez ( רֶמזֶ ) – é a "dica" para um significado mais profundo e não apenas a expressão literal. É conhecido o contexto do texto, no qual fica fácil discernir as pistas, pois o autor não quer expô-las, porém elas são a indicação da direção a seguir.
O terceiro nível é referente a letra D de Drash ( דּרְַשׁ ) - "pesquisa"; ao ler o texto entende-se o que o autor quer que o leitor entenda, acrescente seu conteúdo pessoal e o seu sentimento para descobrir o significado através da midrash (hermenêutica), por comparação de palavras, formas e também por ocorrências semelhantes em outros locais.
O quarto nível é referente a letra S de Sod ( סוֹד ) - "segredo" ou o significado místico, espiritual, de uma passagem, como determinado através de inspiração ou revelação. Ela é restrita àqueles que são do meio, ou que foram ensinados a entender a linguagem própria, específica do contexto em que foi escrita. O autor quer passar a mensagem para o seu igual, que conhece o significado mais profundo.
Vamos a exemplo de como isso deve ser entendido. Vejamos em Mt 13:31-32: parece simples, mas qualquer pessoa que conhece um pouco sobre sementes, sabe que Jesus não está falando a verdade aqui, porque a semente da mostarda não é a menor das sementes. Há sementes menores, como a da hortelã, manjericão, gergelim, entre outras. Se perguntarmos numa igreja o que significa a semente da mostarda, as pessoas irão dizer sobre ter-se a fé do tamanho de um grão de mostarda. Jesus está dizendo que a semente da mostarda é a menor, e provavelmente os seus discípulos riram disso, porque eles andavam pelos montes da Judéia, na Galiléia, e conheciam a mostarda que é uma planta nativa da região. Em todo lugar há um pé de mostarda, e ela não cresce mais do que um metro aproximadamente e, mesmo se um pássaro pequeno, um beija-flor fizesse um ninho num pé de mostarda, a planta envergaria e não aguentaria.
Lembre-se que, na compreensão simples da história, há a compreensão entre as linhas, Pshat, e podemos encontrar um segredo, Sod. Primeiro devemos ter certeza de que ele está trazendo um contexto verdadeiro, e se o entendimento superficial não faz sentido para nós, temos que cavar mais, usando do PARDES, e questionar o texto. O que significa a semente no contexto bíblico? Teremos então Drash. Em 80% das vezes que a palavra semente aparece, não há a conexão com plantas ou vegetais, mas com povo; o povo que é a semente de Abraão, Isaac e Jacó, a semente de Israel que, nas traduções, está como descendência. Todavia, no hebraico é semente e somente o homem tem semente. Talvez não sejam plantas, Pshat, mas povo, a menor das nações como diz em Deuteronômio, Remez. Por que Jesus diz que os judeus, discípulos, são como a semente da mostarda, Drash? Por que os judeus, discípulos, são uma nação teimosa, com temperamento agressivo e apimentado, ou seja, não eram doces. Quando Jesus estava dizendo que eram a menor das nações, e que iriam crescer até à estatura de uma grande árvore, e os pássaros do céu farão ninhos em nossos ramos, igreja gentílica, ele está citando, Remez, o profeta Ezequiel 17:22-24 (6 a.C.).
Usando o método PARDES poderemos interpretar as escrituras com mais clareza de entendimento e, fazer uma boa exegese textual. PARDES, o método, tem facetas, caminhos exegéticos de interpretações o qual já vimos no capítulo EXEGESE NO PRIMEIRO SÉCULO deste trabalho. O método PARDES não tem como mostrar todas as suas faces neste capítulo, mas a base simples foi apresentada.
Concluímos que este capítulo foi realizado com o objetivo de trazer interesse, curiosidade, desenvolver uma busca sobre o método. Como já relatado, o método fica no meio dos catedráticos rabínicos, conhecidos desde o sempre como sábios judeus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

            Portanto, o método PARDES foi e continua sendo um método usado por sábios, doutores e mestres em teologia exegética, nas maiores universidades do mundo judaico-cristão, na historia do Cristianismo. Penso que poderíamos pesquisar e consequentemente nos aprofundar neste método pouco conhecido no meio cristão. Com os anos das minhas caminhadas, mais de 40 anos, nas escolas teológicas cristãs, aprendendo com os mais sábios homens e mulheres que Deus colocou nesta caminhada, aprendi que preciso aprender mais. O método PARDES tem me ajudado a enxergar coisas nos textos, e a ligar as passagens bíblicas de uma maneira muito simples e eficaz. Não poderei negar que os métodos usados nas escolas cristãs têm muito a ver com o método PARDES, alguns muito parecido, mas também muito distante. Como já descrito na história dos grandes interpretes bíblicos, mostraram sem mostrar, ensinaram sem ensinar, cavoucaram, mas não a fundo os textos bíblicos; sinto falta de uma interpretação bíblica que consiga mostrar toda a verdade. Utopia minha. Utopia em tentar descobrir todos os segredos do Pai e do Seu Filho Jesus, O Cristo, pelo simples motivo de estar revelado nas escrituras: Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o filho, a não ser o Pai; e nenhuma pessoa sabe quem é o filho e aqueles a quem o filho o desejar revelar. Bem-aventurados são os olhos de quem vê as revelações que vós vedes. (Lucas 10:22-23b). Como vimos neste trabalho a um nível de revelação que é o Sod, o que está oculto aos olhos humanos, mas revelado na verdade da palavra.
Deixo este trabalho para o enriquecimento no conhecimento teológico na interpretação bíblica, e que sirva de incentivo para os amantes das escrituras a pesquisarem sobre o tema: Interpretação bíblica no primeiro século, o PARDES. Aconselho os principiantes a tomarem cuidado nesta busca e nos caminhos que deverão andar. Durante as pesquisas estive com pessoas sabias em alguns pontos teológicos, porém mais cegas em outros; examinar tudo e reter o que é bom é para aqueles que estão andando no caminho da sabedoria do Senhor e não na dos homens. O apóstolo Paulo orientou o seu filho na fé, Timóteo a guardar o tesouro que te foi confiado, evitando as conversas inúteis e profanas, assim como as elucubrações sem fundamento que muitos chamam de saber. Ora, alguns professando tal conhecimento se desviaram da fé. A graça seja convosco!  (1Tm 6:20-21).
Ainda hoje fica quase impossível aprender o método na sua raiz plena, um dos motivos já foi apresentado no trabalho e o outro, praticamente o teólogo cristão deverá aprender diretamente, dos pés de Gamaliel.
Deixo alguns caminhos para os amados nas referencias biográficas deste trabalho o qual ajudarão a desenvolver a curiosidade e o interesse pelo: PARDES. Método Judaico do 1º Século para Interpretação das Escrituras.


REFERÊNCIAS.

BALANCIN, Euclides M. História do Povo de Deus. 7ª edição. São Paulo: Paulus, 1989.
CESARÉIA, Eusébio. História Eclesiástica. São Paulo: Novo Século, 2002.
CHAGAS, R. O. C. .  História da Igreja: Analise Histórica, Bíblica Eklesia. Primitiva e Pré-Medieval. 3.ed. Genesis. 2009.
ROPS, Daniel. A vida Diária nos tempos de Jesus. 3ª edição. São Paulo: Vida Nova, 2008.
SILVA, Antonio G. da. A bíblia através dos séculos. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GUIMARÃES, M. Midrash, hermenêutica Judaica. Belo Horizonte: Cates, 2011.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro. 8ª edição. CPAD, 2015.
KNIGHT, A; ANGLIN, W. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Atlas, 1983
LOYN, Henry R. Dicionário da Idade Média. 3ª edição. Rio de Janeiro, 1.997. 
LUND. E. Hermenêutica. Miami: Vida Nova, 1999.
REIS, A. P. O Vaticano e a Bíblia. São Paulo: Paulus, 1989.
SHULAM, Joseph. Tesouros Ocultos. Belo Horizonte: Ames, 2016.
PACKER, James; TENNEY, Merris; WHITE JR, William. O Mundo do Antigo Testamento. 8ª edição. São Paulo: Vida, 2002.
THIEL, Winfred.  Sociedade de Israel na época pré-estatal. 2ª edição. São Paulo: Paulinas, 1993.


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